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O futebol de mulheres no Instagram da confederação brasileira de futebol

Foto do escritor: INCT FutebolINCT Futebol

Giovana Liz Silva Neves (UNEB)

Matheus Santana Fernandes (UNEB)

Ester Santos Silva (UNEB)

Talyta Fagundes Teixeira Silva (UNEB)

Ana Gabriela Alves Medeiros (UNEB)


A trajetória do futebol de mulheres no Brasil evidencia as complexas dinâmicas de preconceito, discriminação, resistência e superação que refletem a construção sociocultural de gênero e suas implicações simbólicas e práticas. As mulheres enfrentaram barreiras significativas, com a proibição da prática de esportes considerados “incompatíveis” com sua natureza, estabelecida pelo Decreto-lei nº 3.199 de 1941, vigente até 1979. Essa discriminação retardou o desenvolvimento da modalidade no país e resultou em consequências estruturais perceptíveis até os dias atuais (Goellner, 2021). 


Ao analisar o cenário futebolístico nacional e o estatuto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), observa-se que o principal objetivo da entidade é liderar, promover e fomentar a prática do futebol no Brasil. Isso é realizado por meio da gestão das Seleções Brasileiras de futebol de homens e de mulheres e da organização das competições nacionais, tanto profissionais quanto de base. No entanto, o futebol de mulheres foi negligenciado durante muito tempo. Essa conjuntura só foi aprimorada recentemente a partir de posicionamentos de entidades internacionais que administram o futebol, nomeadamente a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) (Martins; Delarmelina; Souza, 2023).


Diante desse contexto, é crucial considerar que, no cenário do futebol de mulheres, a Confederação Brasileira possui um histórico controverso de escândalos e fraudes, raramente mantendo mulheres em cargos de liderança e falhando em fornecer apoio às jogadoras (Almeida, 2019). Essa combinação de desenvolvimento tardio e gestão inadequada revela os desafios enfrentados pelo futebol de mulheres no Brasil e realça a necessidade de mudanças estruturais para combater a desigualdade no esporte.


Nesse contexto, destaca-se que os meios de comunicação desempenham um papel crucial na difusão e conformação do esporte, em seus múltiplos contextos e atores sociais. No que tange especificamente ao futebol de mulheres, estudos têm revelado uma tendência sazonal e efêmera na abordagem do referido esporte nos meios midiáticos, em que a cobertura se restringe a competições internacionais, com foco na comparação com o futebol praticado por homens e na supervalorização da aparência física em detrimento do desempenho esportivo das atletas (Martins; Moraes, 2007). 


Contudo, observa-se um aumento gradual na visibilidade do futebol de mulheres, demonstrando uma ampliação quantitativa e qualitativa dos meios midiáticos e dos temas abordados (Goellner, 2021). Acrescenta-se a este cenário a ascensão das redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, que têm proporcionado uma maior interação, engajamento e mobilização de fãs, atletas, entidades e jornalismo esportivo, além de viabilizar a disseminação de informações em tempo real.


Isto posto, as redes sociais oferecem às instituições esportivas, como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma plataforma poderosa para se conectar com os fãs, promover o esporte, compartilhar conteúdo relevante e exclusivo, bem como promover eventos relacionados à modalidade. Cabe salientar que dentre as quatro redes sociais em que a CBF está presente – Facebook, Instagram, X e YouTube –, o Instagram é a mais popular, contando com mais de 17 milhões de seguidores. 


Nesse sentido, temos conduzido uma pesquisa de Iniciação Científica, visando identificar e analisar as representações do futebol de mulheres na conta oficial da CBF no Instagram, considerando o papel significativo da plataforma no engajamento, na formação de opiniões e na (des)construção de estereótipos de gênero. Ao focalizar a conta oficial da CBF, buscou-se compreender como a organização utiliza estrategicamente o Instagram para promover o futebol de mulheres e contribuir ativamente para a transformação do cenário esportivo em termos de igualdade de gênero.  


Ancorada na abordagem qualitativa, a pesquisa desenvolveu-se a partir de uma etnografia virtual (ou netnografia). Sendo assim, para analisarmos as representações sobre o futebol de mulheres no contexto virtual, recorremos à conta oficial da Confederação Brasileira de Futebol no Instagram: @cbf_futebol.


A partir da técnica de observação oculta, em que se é mantido o anonimato do/a pesquisador/a, foram selecionadas publicações e interações veiculadas no feed de notícias (fluxo de conteúdo visual e textual mostrado em bloco sequencial, considerado como uma “vitrine” do usuário) da CBF no Instagram.  Cabe destacar que os usuários do Instagram não necessitam de autorização para acesso a informações, comentários e postagens da página da CBF.


Tendo em conta que a última edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino ocorreu em 2023, entre os dias de 20 de julho e 20 de agosto, a recolha dos dados foi realizada nos marcos de um recorte cronológico correspondente ao período de 19 de junho a 20 de setembro de 2023, abrangendo assim o período anterior, durante e após a maior competição internacional do futebol de mulheres.


Durante o processo de coleta dos dados, utilizou-se uma ficha de catalogação como ferramenta de seleção, registro e sistematização das informações. Uma vez recolhidos e organizados os dados, recorreremos à Análise do Discurso (Orlandi, 2009) para análise e interpretação das representações do futebol de mulheres na conta oficial da CBF no Instagram.


Considerando que a presente pesquisa encontra-se na fase de sistematização e análise dos dados, apresentaremos brevemente uma descrição das publicações catalogadas. Um total de 189 publicações foram identificadas e organizadas nos seguintes períodos: um mês antes da Copa do Mundo de 2023 (19 de junho a 19 de julho de 2023), o mês da competição (20 de julho a 20 de agosto de 2023) e um mês após o evento (21 de agosto a 20 de setembro de 2023).


No período que precedeu à competição, foram identificadas 77 publicações, incluindo a seleção de influenciadores digitais que acompanhariam a equipe brasileira, convocações de atletas, amistoso internacional, chegada das jogadoras à Austrália (um dos países sede da Copa), divulgações dos jogos, numeração oficial, imagens e vídeos de treinos, além da disputa de jogo/treino amistoso contra a China, no qual a equipe brasileira saiu vitoriosa. Também foram abordados vídeos curtos com a apresentação pessoal das atletas, realizados em parceria com a CBF TV.


Durante a Copa do Mundo, destacam-se 104 publicações, focadas principalmente nos treinos, informações sobre os jogos, como data, horário e onde assistir, e a cobertura dos jogos, com escalação, aquecimento, gols e resultados das partidas disputadas pela seleção brasileira. Contudo, o Brasil não conseguiu avançar na competição, sendo eliminado na fase de grupos. Assim, a última publicação neste período foi no dia 02 de agosto, compreendendo apenas 13 dias de cobertura. 


Vale salientar uma publicação após a eliminação do Brasil com um comunicado do presidente da CBF, anunciando um aumento de investimento no futebol de mulheres, sobretudo nas categorias sub-15 e sub-17, e ressaltando a ampla cobertura jornalística da seleção brasileira, tanto no Brasil quanto na Austrália. 


No último mês analisado, após a Copa do Mundo de Futebol Feminino, o Instagram da CBF apresentou apenas 8 publicações relevantes sobre o futebol de mulheres. Essas postagens incluíram a demissão da técnica Pia Sundhage e a contratação da nova comissão técnica liderada por Arthur Elias, entrevistas com a nova comissão técnica, e resultados de jogos da seleção brasileira na Liga de Desenvolvimento Sub-19 da CONMEBOL. 


Uma pré-análise dos dados indica que, durante o período observado, as publicações no Instagram da CBF focaram na cobertura da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol Feminino, destacando aspectos jornalísticos, de infotenimento e interação com os seguidores. No entanto, após a eliminação do Brasil na competição, não houve publicações sobre o futebol de mulheres por quase um mês. 


O Instagram da CBF consiste em uma ferramenta importante para a promoção e valorização do futebol de mulheres no Brasil, assim, consideramos que as narrativas de visibilidade e apoio poderiam ser intensificadas, especialmente durante eventos de grande destaque como a Copa do Mundo.


Referências:

ALMEIDA, C. S. O Estatuto da FIFA e a igualdade de gênero no futebol: histórias e contextos do Futebol Feminino no Brasil. FuLiA/UFMG, v. 4, n. 1, p. 72-87, 2019.


GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e futebol no Brasil: descontinuidades, resistências e resiliências. Movimento, v. 27, jan./dez. 2021.


MARTINS, L. T.; MORAES, L. Futebol feminino e sua inserção na mídia: a diferença que faz uma medalha de prata. Pensar a Prática, Goiânia, v. 1, n. 10, p. 69-81, 2007.


MARTINS, M. Z.; DELARMELINA, G. B.; SOUZA, L. C. Profissionalize-se como uma garota?: efeitos das políticas de desenvolvimento do futebol de mulheres nas oportunidades da carreira esportiva no Brasil. FuLiA/UFMG, v. 8, n. 3, p. 59–81, 2023.


ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. 8ª ed. Campinas: Pontes, 2009.


Sobre as autoras e o autor:

  • Giovana Liz Silva Neves, Matheus Santana Fernandes, Ester Santos Silva e Talyta Fagundes Teixeira Silva são discentes do curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus XII).

  • Ana Gabriela Alves Medeiros é Professora Adjunta do curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus XII).


Este texto é uma adaptação da apresentação realizada pelas autoras e pelo autor no I Encontro INCT Estudos do Futebol Brasileiro, realizado de 5 a 7 de agosto de 2024, em Florianópolis.


Como citar:

SILVA NEVES, Giovana; SANTANA FERNANDES, Matheus; SANTOS SILVA, Ester; FAGUNDES TEIXEIRA, Talyta; ALVES MEDEIROS, Ana Gabriela. O futebol de mulheres no Instagram da confederação brasileira de futebol. Bate-pronto, INCTFUTEBOL, Florianópolis, V.2, n.3, 2025.


 
 
 

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