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III Colóquio Internacional do INCT Futebol chega ao fim com avaliações positivas

10 de outubro de 2025
10:00
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Pesquisadores(as/us) que se apresentaram no III Colóquio Internacional do INCT Futebol. Foto: Guilherme da Silva Magalhães

Ocorreu, entre os dias 29 de setembro e 2 de outubro de 2025, o III Colóquio Internacional do INCT Futebol, que teve como tema “O futebol visto pelas Ciências Sociais e Humanas: estudos e perspectivas ibero-americanas”. O evento aconteceu em três cidades de Portugal: Lisboa, Coimbra e Porto. Além das conferências e mesas realizadas, também houve uma visita à Cidade do Futebol, sede da Federação Portuguesa de Futebol, ao Estádio da Luz e ao Museu do Sport Lisboa e Benfica. Houve, ainda, o lançamento dos dois primeiros livros da série “Futebol: Política, Cultura e Sociedade”, desenvolvida pelo INCT Futebol com o selo da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).

 

O Dr. Francisco Pinheiro, da Universidade de Coimbra, foi um dos organizadores do evento. Ele conta que a ideia foi promover um diálogo não apenas entre Brasil e Portugal, mas também entre países latinos e ibéricos, uma vez que o evento contou com pesquisadores do Uruguai e da Espanha. O colóquio teve a participação de vinte e sete pesquisadores(as/us), sendo doze brasileiros(as/es), treze portugueses(as/us), um uruguaio e um espanhol – o Dr. Xavier Pujadas Martí, da Universitat Ramon Llull.

 

O evento foi organizado pela Dr.ª Carmen Rial (Universidade Federal de Santa Catarina), coordenadora-geral do INCT Futebol, pelo membro do INCT Futebol Dr. Fábio Machado Pinto (Universidade Federal de Pelotas), pelo coordenador da linha “Futebol de várzea e comunitário”, do INCT Futebol, Dr. Luiz Carlos Rigo (Universidade Federal de Pelotas), em parceria com os portugueses Dr. Carlos Nolasco e Dr. Francisco Pinheiro, ambos da Universidade de Coimbra.


Quatro dias de atividades intensas e de imersão no futebol português


Visita ao Estádio da Luz. Foto: Fábio Machado Pinto
Visita ao Estádio da Luz. Foto: Fábio Machado Pinto

O colóquio foi pensado para ocorrer em três cidades portuguesas importantes do ponto de vista das pesquisas acadêmicas realizadas no país. Essa proposta apresentou o desafio de organizar o evento em diferentes instituições e viabilizar o deslocamento dos pesquisadores(as/us) entre elas. Em Lisboa, o colóquio concentrou-se no Museu do Benfica. Em Coimbra, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. No Porto, as sessões foram realizadas na Universidade Fernando Pessoa.

 

Além das atividades acadêmicas, o evento contou com visitas a importantes espaços do futebol português, como conta o Dr. Fábio Machado Pinto, que liderou a coordenação do colóquio: “Nossa aventura começou em Lisboa. Ela teve duas ações muito interessantes. Uma forma diferente de realizar o colóquio.” A primeira foi uma visita guiada ao Estádio da Luz e ao Museu do Benfica. A seguinte foi uma incursão à Cidade do Futebol, sede da Federação Portuguesa de Futebol, onde os(as/es) pesquisadores(as/us) foram guiados(as/es) pela museóloga Dr.ª Lúcia Alegrias. “Um espaço muito completo do ponto de vista tecnológico, científico, interdisciplinar, que atende à seleção nacional e à base também”, destaca Fábio. Esse tipo de atividade promove a oportunidade de os(as/es) pesquisadores(as/us) terem acesso a registros importantes da história do futebol português, contribuindo ainda mais para o enriquecimento proporcionado pelo evento.

 

Para o Dr. Francisco Pinheiro, o colóquio propiciou não apenas refletir sobre as dinâmicas de pesquisa já realizadas, mas também preparar o caminho para as que ainda estão por vir: “Houve aqui a intenção de pontuar, do ponto de vista temático, aquilo que seria importante desenvolver e que se está a desenvolver no presente, mas também perspectivar aquilo que é próprio do desenvolvimento da investigação sobre futebol para os próximos, por exemplo, dez, quinze, vinte anos.” Ele ressaltou a importância do diálogo entre diferentes gerações de pesquisadores(as/us): “É importante termos aqui também o contributo de jovens investigadores, além de professores já muito consagrados”.

 

O Dr. Roberto DaMatta (Universidade de Notre Dame) e a Dr.ª Claudia Lee Williams Fonseca (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) foram convidados especiais que prestigiaram o evento, comentando as atividades desenvolvidas. Ambos têm trabalhos de grande destaque na antropologia brasileira, e a presença deles foi mais uma rica oportunidade de aprendizado para os(as/es) pesquisadores(as/us) envolvidos(as/es). Na conferência de abertura do evento, o Dr. Roberto DaMatta revisou sua grande obra “Universo do futebol”, referência para os(as/es) pesquisadores(as/us) da área.

 

A Dr.ª Caroline Soares de Almeida (Universidade Federal de Pernambuco) é coordenadora da linha de pesquisa “Futebol de mulheres, de indígenas, paralímpico e LGBTQIA+”, do INCT Futebol. Ela participou do evento apresentando uma pesquisa historiográfica sobre o futebol de mulheres no Brasil: “Eu analiso isso a partir da censura de espetáculos e de produções artísticas durante a Ditadura Militar que inseriam a ideia do futebol de mulheres nessas produções. A conclusão foi que aquelas produções que ridicularizavam a prática do futebol por mulheres eram mais aceitas nos relatórios da censura.”

 

O trabalho de Caroline foi apresentado na primeira mesa redonda do evento, “Estudos e pesquisas sobre futebol: balanço, panorama e perspectivas”. O evento contou com outras seis mesas redondas, envolvendo trabalhos relacionados a diferentes temáticas, como identidades, gênero, decolonialismo, racismo, migrações, periferias, mídias e história do futebol.

 

Lançamento de livros


O livro da Ma. Aira Bonfim foi um dos lançados no evento. Foto: Fábio Machado Pinto
O livro da Ma. Aira Bonfim foi um dos lançados no evento. Foto: Fábio Machado Pinto

Outra importante atividade promovida pelo evento foi o lançamento de livros que trazem estudos sobre o futebol no Brasil e no mundo. O INCT Futebol está iniciando a produção da série “Futebol: Cultura, Política e Sociedade”, em parceria com a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), para divulgar os eventos e pesquisas promovidos pelo Instituto. Na oportunidade, foram lançados os dois primeiros volumes da série, que trouxeram uma coletânea dos trabalhos apresentados em colóquios anteriores, desenvolvidos na França e no Uruguai.

 

O Dr. Francisco Pinheiro é um dos autores do livro que nasceu a partir do colóquio do Uruguai. Ele conta: “Contribuí com um artigo sobre como a história do futebol tem sido olhada a partir da perspectiva portuguesa. Analisei obras publicadas entre o século XX e o século XXI.” O lançamento de mais dois livros da coleção está programado para acontecer no próximo colóquio do Instituto, que será na Argentina, entre 29 de outubro e 1 de novembro de 2025.

 

Também foi realizado o lançamento de um livro da Ma. Aira Bonfim (Fundação Getúlio Vargas), uma das pesquisadoras que integraram o evento. O livro “Futebol feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios, uma história social (1915-1941)” foi lançado inicialmente no Brasil em 2023. Durante o evento, a obra foi relançada em Portugal. Historiadora do esporte, ela coordena uma empresa de produções culturais, através da qual o livro foi produzido. Aira explica a temática: “É uma publicação que discorre com mais de quatrocentas fontes oriundas de jornais, de materiais impressos do início do século XX, que vão dar subsídios para a gente compreender a presença das brasileiras no contexto da prática do futebol.”

 

Dois outros livros também foram relançados no evento. O “InterPeriferias do Futebol: o que o futebol nos ensina sobre viver em sociedade” foi uma parceria entre o INCT Futebol e o projeto InterPeriferias, da Universidade Federal de Pelotas. O livro “Futebol Popular”, por sua vez, foi uma parceria entre o INCT Futebol e o Ludopédio.


Os desafios da organização do colóquio


O colóquio contou com mesas redondas em três cidades portuguesas. Foto: Fábio Machado Pinto
O colóquio contou com mesas redondas em três cidades portuguesas. Foto: Fábio Machado Pinto

O Dr. Fábio Machado Pinto conta que o evento começou a ser planejado em 2023, e foi um processo bastante desafiador: “Foi um evento bastante difícil de organizar, desde os momentos anteriores. Um evento que contou com uma metodologia diferente, itinerante. Precisou de uma logística de translado bastante complexa para contemplar as idiossincrasias de cada pesquisador, como as especificidades de hospedagem, condições de locomoção, entre outras. Isso exigiu uma mobilização grande e uma ação coletiva muito importante.” Além da importância dos esforços da equipe de organização do colóquio, Fábio ressaltou o apoio de toda a equipe técnica que deu suporte ao evento.

 

Lucas Vinicius Araujo Lisboa, mestrando em Educação pela Universidade Federal do Sergipe, é bolsista de extensão do INCT Futebol. Ele fez parte da equipe de comunicação do colóquio: “Eu fui um dos responsáveis pelas transmissões do evento através do canal do YouTube do INCT. É importante destacar a interlocução que a gente foi fazendo no período das divulgações, uma vez que o fuso horário de Portugal é diferente do Brasil.” Lucas ressalta o papel da veiculação do evento online: “Essa parte da comunicação é superimportante, não só para garantir que as pessoas assistam ao vivo, mas também para dar visibilidade ao INCT e mostrar que ele está presente em vários espaços. Não só físicos, mas também nas redes.”

 

Sofia Junqueira Ferraz Backx, graduada em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é bolsista de apoio técnico do INCT Futebol. Ela foi a responsável pela produção da identidade visual e das peças gráficas para o evento. Sofia conta: “A identidade visual surgiu numa tentativa de traduzir o tema do colóquio, que é uma parceria entre o Brasil e Portugal. Então, as cores foram a mistura das cores das bandeiras dos dois países.”

 

Mas a experiência de auxiliar na organização do evento também foi uma importante oportunidade de aprendizado para os(as/es) bolsistas envolvidos(as/es). Guilherme da Silva Magalhães, estudante de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas, é bolsista de iniciação científica do INCT Futebol. Ele atuou como monitor no colóquio, organizando as transmissões online no local, produzindo registros em fotografias e vídeos, e auxiliando nas demais demandas logísticas. Guilherme comenta sobre a oportunidade: “Foi uma experiência totalmente enriquecedora para mim, que me trouxe muita bagagem, muita visão do que é produzido no meio do futebol e por pessoas que são muito competentes no que fazem e têm uma caminhada longa.” Além do interesse por pesquisar futebol, esse esporte também ocupa um importante lugar na vida do estudante. “O futebol sempre teve um espaço enorme na minha vida e é um ponto de interesse enorme para mim”, conta Guilherme.

 

A dimensão humana do evento


Momento de confraternização entre os(as/es) pesquisadores(as/us) do evento. Foto: Guilherme da Silva Magalhães
Momento de confraternização entre os(as/es) pesquisadores(as/us) do evento. Foto: Guilherme da Silva Magalhães

 O Dr. Francisco Pinheiro destaca que os resultados do colóquio ultrapassam a apresentação dos trabalhos: “Para além daquilo que foi a dimensão acadêmica, fica aquilo que é uma das mais-valias que o INCT tem botado a promover, na minha opinião, que é, sobretudo, a criação da rede. Estamos aqui a criar todo um conjunto de rede de investigadores que possa permitir a circulação de jovens investigadores, a criação de novas perspectivas de investigação, o estreitamento destas relações.”

 

A Dr.ª Caroline Soares de Almeida ressalta que a importância do intercâmbio entre os(as/es) pesquisadores(as/us) vai muito além de questões pontuais: “Esses dias de convivência com outros pesquisadores, tanto de Portugal como do Brasil, foram bastante enriquecedores, no sentido de criar novas conexões, aumentar essa rede de pesquisa sobre futebol, pensar novos trabalhos, novas parcerias. Mas também de conviver com essas pessoas, conhecer um pouco mais delas, confraternizar, o que é muito importante.”

 

O Dr. Fábio Machado Pinto elucida como todos os momentos vivenciados durante o evento foram produtivos de diversas maneiras: “Quero destacar que esse convívio mais informal, a janta final, o café em Coimbra, os translados de ônibus, os almoços e jantares que nós realizamos foram também momentos interessantes do ponto de vista não só da troca de afetos, mas também de trocas acadêmicas, de discussões, de aprofundamento de questões que ficavam abertas, que não cabiam, não dava tempo de discutir nas mesas.”

 

Balanço final

 

Depois de tantos esforços, o Dr. Fábio Machado Pinto considera que o evento cumpriu com seus objetivos: “Avalio que foi muito bem-sucedida a iniciativa. Um evento que produziu muitas reflexões, que, acima de tudo, cumpriu com a nossa expectativa de estreitar as relações entre Brasil e Portugal, no que diz respeito à rede de pesquisa portuguesa sobre o futebol. Então, o saldo me parece bastante positivo.” Ele revela qual é o próximo passo: “O desafio agora é produzir mais um livro da nossa série, um produto que sistematize e sintetize o conjunto de apresentações que foram objeto da nossa reflexão no colóquio de Portugal.”

Texto por Vanrochris Vieira.
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