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A cobertura midiática sobre o futebol de cegos no Brasil

Talyta Fagundes Teixeira Silva

Ester Santos Silva

Giovana Liz Silva Neves 

Matheus Santana Fernandes 

Ana Gabriela Alves Medeiros


No texto abaixo, as autoras e o autor discutem como o futebol de cegos é representado de 2004 a 2014 no portal de notícias do Globo Esporte.


A imagem traz a grafia em braille para “futebol de cegos”
A imagem traz a grafia em braille para “futebol de cegos”

O futebol de cegos, também conhecido como futebol de 5, é destinado especificamente para pessoas cegas ou com deficiência visual, praticado em quadras de futsal adaptadas ou em campos de grama sintética, com cinco jogadores, sendo, o goleiro o único com visão total. Os atletas são divididos em três classes, B1: cegos totais ou com percepção de luz, mas sem reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância, B2: atletas com percepção de vultos, e B31: atletas que conseguem definir imagens. De todo modo, os atletas devem usar uma venda nos olhos para garantir a igualdade de condições.


Após décadas de iniciativas isoladas realizadas por diferentes países, em 1996, o futebol de cegos foi incorporado pela Federação Internacional de Esportes para Cegos. Esse fato corroborou para a realização das principais competições de futebol de cegos no contexto internacional, tais como a Copa do Mundo, cuja primeira edição ocorreu em 1998 na cidade de Campinas (SP), e a inserção da modalidade nos Jogos Paralímpicos, em Atenas 2004 (Oliveira; Vargas; Capraro, 2023).


O Brasil se destaca como a seleção mais bem-sucedida nessas competições, tendo conquistado medalha de ouro em todas as edições dos Jogos Paralímpicos e em 5 das 8 edições da Copa do Mundo (Robertes; Souza, 2022). Nesse cenário, a mídia esportiva brasileira tem desempenhado um papel crucial na divulgação dessas conquistas e na formação de percepções públicas sobre o esporte e seus praticantes.


Sabe-se que a relação entre mídia e esporte é caracterizada por uma simbiose, na qual ambos se influenciam mutuamente. A mídia, entendida como os meios de difusão de informação em massa, impulsiona a disseminação e o desenvolvimento de modalidades esportivas, enquanto também se beneficia da mercadorização do esporte (Santos; Souza, 2016).


No contexto do esporte paralímpico, o discurso midiático pode afetar na estigmatização ou desestigmatização das pessoas com deficiência, dependendo de como as retrata. Portanto, torna-se relevante investigar como o futebol de cegos é apresentado na mídia e quais narrativas predominam nas reportagens.


Desse modo, nossa pesquisa tem como objetivo analisar o discurso midiático acerca do futebol de cegos no Brasil, a partir das notícias do portal Globo Esporte. Busca-se entender como a mídia constrói narrativas sobre o esporte, quais aspectos são enfatizados ou negligenciados, e como essas representações podem impactar a percepção pública e o desenvolvimento da modalidade.


Nosso trabalho adota uma abordagem qualitativa com caráter de pesquisa documental, utilizando para análise dos dados a Análise de Conteúdo (Gil, 2017). Para tanto, foi utilizado como fonte de pesquisa o portal eletrônico Globo Esporte (ge.globo.com), mantido pelo site Globo.com, afiliado à rede de televisão aberta TV Globo. A escolha deste veículo se justifica pela qualidade da comunicação sobre o esporte brasileiro ao longo dos mais de 20 anos; sua relevância nacional, identificada a partir de sua popularidade entre brasileiros e brasileiras; e a disponibilidade de arquivos acessíveis online. Esses critérios garantem uma base sólida e representativa para a análise das notícias relacionadas ao futebol de cegos no Brasil.


Considerando que a primeira participação do futebol de cegos nos Jogos Paralímpicos ocorreu em Atenas 2004, quando o Brasil conquistou o título de campeão, demarcando um momento significativo na história deste esporte no país, selecionou-se o ano de 2004 como marco inicial para esta pesquisa, estendendo-a até o ano de 2024. A escolha desse período de vinte anos permite uma análise abrangente e contextualizada da cobertura midiática sobre o futebol de cegos, desde esse marco histórico até os dias atuais.


Durante o processo de coleta de dados, foi utilizado uma ficha de catalogação para relacionar, registrar e sistematizar as informações identificadas. É importante destacar que foram excluídas matérias que apenas mencionavam o futebol de cegos/futebol de 5 sem que este fosse o foco principal da notícia, bem como aquelas que consistiam exclusivamente em vídeos e notícias com links inválidos. Assim, considerando que esta pesquisa está em andamento, o período aqui analisado consiste na primeira década, de 2004 a 2014, totalizando 42 publicações.


Para análise dos dados coletados, recorreu-se à Análise de Conteúdo, uma técnica que visa entender o que está escrito ou falado, buscando destacar indicadores que permitam concluir conhecimentos sobre as condições de produção e recepção das mensagens (Bardin, 2016). Em suma, essa técnica busca descrever de forma objetiva, sistemática e qualitativa o conteúdo da comunicação. A partir dos dados coletados foram estabelecidas, inicialmente, cinco categorias: Eventos internacionais, Eventos nacionais, Atletas, Apoio e Incentivo e Técnicas e táticas do jogo.


Na categoria Eventos Internacionais, foram identificadas 14 publicações (33,34%), que abordavam jogos preparatórios da seleção brasileira e competições internacionais, como a Copa do Mundo de Futebol de Cegos e os Jogos Paralímpicos. A primeira matéria veiculada ocorreu no ano de 2010, coincidindo com a primeira notícia sobre futebol de cegos no portal do Globo Esporte. Este fato nos chama atenção, pois o Brasil já havia conquistado o título de campeão da Copa do Mundo em 1998 e 2000, e dos Jogos Paralímpicos de 2004 e 2008 (Robertes; Souza, 2022).


Nesse contexto, destacam-se relatos do tricampeonato e tetracampeonato do Brasil no Mundial, 2010 e 2014, respectivamente, e um único registro do tricampeonato nos Jogos Paralímpicos de 2012. Outro evento mencionado foi o Mundialito disputado na Espanha em 2013, com os principais times do mundo, onde o Brasil, representado pelo time ICB (Instituto de Cegos da Bahia), sagrou-se campeão.


A categoria Eventos Nacionais contou com 10 publicações (23,80%), destacando a participação de times do estado de Mato Grosso, Paraíba, Bahia e Pernambuco em competições como o Campeonato Centro-Norte, Copa Brasil, Taça Nordeste e Campeonato Regional Nordeste. Além disso, uma reportagem narra uma partida disputada entre um time composto por pessoas cegas e outro com pessoas vendadas, ocorrida na cidade de Presidente Prudente (SP) em referência ao Dia da Pessoa com Deficiência.


Na categoria Atletas, 9 publicações (21,43%) abordam uma variedade de assuntos protagonizados por atletas da modalidade em questão. Dentre eles, ressalta-se o relato do goleiro da seleção, Fábio, que foi alvo de críticas e comentários depreciativos, como “jogar contra cegos é fácil”. Além disso, são relatadas trajetórias de vida dos jogadores, destacando suas experiências além do esporte e como essas influenciaram suas jornadas até chegarem na seleção, bem como destacam jogadores que se tornaram fonte de inspiração para pessoas com e sem deficiência visual.


Na categoria Apoio e Incentivo, foram encontradas 7 publicações (16,67%), abordando uma premiação conquistada pela seleção de futebol de 5 em 2013, uma homenagem pelos 10 anos do primeiro ouro em Jogos Paralímpicos, mensagens de apoio de personalidades de dentro e fora do esporte para os jogadores rumo ao Mundial de 2014, além de apelos de times nacionais por apoio e reconhecimento à modalidade.


Por fim, na categoria Técnicas e Táticas do Jogo, 2 publicações (4,76%) em 2014 abordam as possibilidades de treinamento dos jogadores para aprimorar o jogo e entrosamento em quadra.


Em síntese, a análise em andamento da cobertura midiática sobre o futebol de cegos no portal Globo Esporte revela um cenário diversificado, que cresceu durante os primeiros dez anos pesquisados. Desde os triunfos históricos da seleção brasileira em competições internacionais até as iniciativas de apoio e incentivo ao esporte. Essas representações na mídia podem contribuir significativamente para ampliar a conscientização e o reconhecimento desse esporte adaptado, fortalecendo seu impacto social e seu potencial transformador.


1 Cf.: https://cpb.org.br/modalidades/futebol-de-cegos/. Acesso em: 17 de mar. 2025.


Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.


GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 6ª ed. Editora Atlas, 2017.


OLIVEIRA, M. E.; VARGAS, P. I.; CAPRARO, A. M. Revisão bibliométrica de artigos sobre futebol de cegos (2009-2022). Revista Brasileira de Futsal e Futebol, v. 15, n. 61, p. 8-19, 2023.


ROBERTES, R; SOUZA, S. Manual de iniciação ao esporte paralímpico: futebol de cegos. Comitê Paralímpico Brasileiro, 2022.


SANTOS, S. M.; SOUZA, D. L. O esporte paralímpico na ou da mídia? Uma revisão de literatura. Anais do VIII Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte, Criciúma-SC, 2016.


Sobre as autoras e o autor:

Talyta Fagundes Teixeira Silva, Ester Santos Silva, Giovana Liz Silva Neves e Matheus Santana Fernandes são discentes do curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus XII). Ana Gabriela Alves Medeiros é Professora Adjunta do curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus XII).


Disclaimer:

As perspectivas presentes nos artigos veiculados no blog Bate-Pronto não necessariamente refletem as posições institucionais do INCT Futebol.


Você já conhecia o futebol de cegos? Se tiver mais curiosidade sobre esse tema, temos um ensaio fotográfico que retrata a participação de mulheres nessa modalidade esportiva: Futebol de cegas e a luta pela igualdade de gênero.


Como citar:

SILVA, Talyta Fagundes Teixeira; SILVA, Ester Santos; NEVES, Giovana Liz Silva; FERNANDES, Matheus Santana; MEDEIROS, Ana Gabriela Alves. A cobertura midiática sobre o futebol de cegos no Brasil. Bate-pronto, INCTFUTEBOL, Florianópolis, V.2, n.7, 2025.





 
 
 

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